Relembrando e relembrando... o que aconteceu em 2020?
Em Março de 2020 aconteceu a pandemia da covid 19 no Brasil, e no brechó, eu estava na linha de frente real, oficial. O que significava isso? Eu que fazia tudo haha e de certa forma comecei a me empolgar com isso. Eu amava montar os looks, amava tirar as fotos, amava imaginar as peças que combinariam e principalmente conhecer os recortes das roupas e tecidos. Meu lance era mesmo a parte criativa. Nisso, eu comecei a estudar as épocas com mais disciplina, a intenção era aprender qual características e comportamento de cada década em relação a moda, e também para entender de quais épocas eram aquelas peças que eu encontrava.
Eu já não tirava fotos das pessoas como modelos com intensidade de antes, principalmente devido ao covid, então eu acabei me tornando a "modelo" haha
Esse é um editorial que amo muito. E esse vestido, como ficou encalhado, eu peguei pra mim.
Esse conjunto é muito lindão!
Esse eu amo, é uma peça dos anos 70. Ele tinha uma leve avaria de queimado de cigarro, e essa marca me levou para época. Para tirar essas fotos com ele, eu fingi que um lápis de olho branco era um cigarro que eu fumava e editei a fumaça no photoshop hahaha.
O Abaporu.
Eu amo esse anos 70 da Dona Florinda.
E esse também.
Esse foi é um editorial muito legal que fizemos numa igreja abandonada.
Essa foto bombou na época, teve quase mil curtidas e isso era muito pra mim haha ainda acho que é. A gente desvalorizou os números, mas imagina mil pessoas te seguindo na rua, é muito hahaha
Linda hahah essa é a realidade
Essas roupas aqui eu encontrei em um bazar de uma senhora que fechou sua loja pois estava com o acervo encalhado, e tinha muita peça dos anos 80! Eu surtei de alegria. Nunca mais encontrei o bazar dela e fico pensando se foi uma quebra na linha do tempo que me fez encontrar essas peças aquele dia hahaha.
Nessa época tudo era difícil, novo e caótico. Mas infelizmente a roda do capitalismo continuava rodando e eu precisei continuar também.
Eu tive medo, fiquei pensando o que eu iria fazer pois comprar roupas e ser autêntico em meio a uma pandemia, mortes e sofrimentos, não era bem uma idea viável. Porém, por mais estranho que pareça eu estava errada.
As pessoas por estarem muito em casa, não sei, imagino eu, com uma constante sensação de vazio e falta de sentido, começaram a gastar muito! Então, uma peça de roupa talvez supriria o bad de viver numa pandemia, com tantas mortes, falta de lógica, fake news, sem poder sair de casa, ver os outros e ter momentos bons. Funcionava como um brilhinho, funcionava para disfarçar o que estavámos vivendo. Foi o que senti. Então as vendas bombaram!
Tanto que como eu já estava ficando louca de ter que negociar pelo insta, resolvi abrir um site.
Deu bom, parei com aquela chatice de sacolinha e o site era bem fofinho. Fiz pela Loja Integrada. Meu amigo Gabs na primeira fotinha de capa do site, era importante ser ele na foto pois, o Gabs foi o primeiro amigo que fiz quando mudei para a cidade que moro hoje.
Algumas peças.
Nossa, essas bolsas era um inferno hahaha.
Sim, elas são lindas. Mas acontecia aquela mesma chatice com as camisolas e peças de dormir dos anos 40, só que um pouco mais. Era um surto! De um lado as meninas querendo muito e chorando nas minhas orelhas, do outro algumas brechózeiras falando "cobra mais caro, ta muito barato".
Afeee nem eu aguento minha chatice e falta de viés para o mercado (é assim que chama?) hahaha.
E essas lindas bolsas eu ganhei! Como ia cobrar caro, tpo absurdo??!!
Era esse tipo de coisa que me desestabilizava.
Essa blusa foi um hit, uma relíquia anos 70. A qualidade dos tecidos dela era demais!
Eu amo esse vestido anos 80tinha bem Japãozinho, teria pegado pra mim se não tivesse ficado tão grande.
No início de 2020 colaboramos com as peças de um desfile lindo chamado "Sou como Sou" pela diversidade com a prefeitura de Lins, o coletivo Somos e o museu de Lins. Saudades.
O brechó já havia feito seu primeiro desfile organizado por minha irmã, eu e amigos, chamado a "A moda sem gênero" mas esqueci de compartilhar.
Esse foi de 2017.
Esse foi um hit também.
As fotos são da diva Ozana Takano.
Nessa época eu comecei com algumas reflexões, estava em casa e meu mundo era só o brechó. Os brechós na internet estavam aumentando tanto em quantidade, quanto em preço.
As reflexões até geravam algum burburinho e troca de ideias, mas eu comecei a ficar confusa, porque como sempre digo, eu não pagava caro nas peças que vendia, e mesmo na questão de ser vintage, e com o serviço que tinha de lavar, passar, tirar foto, editar, fazer as embalagens e levar aos correios, ainda não era motivo para cobrar exagerado numa peça. Pois eu sempre vi brechó como uma alternativa de compra pra quem é classe C, vulgo eu, para garimpar as peças fashions, fazer seu estilo e encontar sua autênticidade.
Mas as coisas não caminhavam para os meus valores e eu ficava assim... gente?
Na época eu escrevi lindo, hoje eu só ia mandar tomar no c*, não comprar e continuar procurando nos brechós de bairros e igrejas. Eu era polida, queria gerar reflexões com respeito. Hoje eu tô cansada.
A alegria de ter uma peça ótima e estilosa economizando começou a não existir mais. E hoje em dia eu não sei como está a questão de brechós online e nem quero saber haha.
Outra coisa ridícula que começou acontecer e me irritar foi esse babado aqui: afe esse é tenso!
Algumas peças de décadas mais recentes, principalmente anos 80 com o revival da moda dos anos 20, e da década de 70 com alguns revivais dos anos 1910 em recortes e rendas, começaram a ser vendidas como a época que elas foram inspiradas.
Tipo, uma peça dos anos 80 sendo vendida como original anos 20 por ter recorte reto na cintura, e sendo vendida por valor super caro!!!
Como as peças dos anos 60 pra baixo é mais difícil de encontar, algumas pessoas má informadas ou má intencionadas, usavam disso para vender. E pior, vendiam!! Todo mundo batia palma "nossa, que relíquia".
As pessoas parecem que gostam de ser enganadas quando isso te gera algum status ou sei lá, te permiti estar em algum espaço que quer pertencer.
Eu ficava put4 da cara!
Resolvi fazer esse post, mas não sei e me deu um misto de sensações, entre saudade pela criação da arte, bad pela época e revolta. Eu não voltaria com o brechó, pelo menos não nesses formatos. Acho que eu nunca combinei muito com esse negócio de venda, eu não gosto muito dessas questões de consumo que envolve status e senti que brechó começou a virar isso, sem falar dos altos valores. Acredito também que havia uma euforia maior devido a época que estávamos vivendo, de completo caos no Brasil. Mas senti uma certa tristeza pela saudade em ver como as coisas que produzia eram boas e eu não via, e também quando gerava algum afeto, era verdadeiro. Era divertido trabalhar commoda, expressão e arte, mas esse bololô que vinha junto, não me fazia bem.
Mesmo na restrição eu dava um jeito de garimpar toda semana, ou comprava online e ia buscar, ou fazia parcerias, por isso encontrava muita coisa boa, mas por algum motivo eu sentia que ainda não era suficiente... Não sei se era meus olhos que estavam tampados ou eu que realmente não tenho perfil para isso porque sou chata e cricri.
Bom ainda terá mais alguns anos de 3 Marias até eu chegar na conclusão do fim e fechar o brechópx.
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