Bebê Et e o surto reborn - parte 01 - vamos de textão

Eu nem sei por onde começar.
Pesquisando sobre o universo das bonecas reborn, e consumindo alguns conteúdos que apareciam no meu pesquisar do insta, percebi que eu não vou conseguir, e nem quero, traduzir a grandeza que é esse babado.
A singularidade, o motivo de cada colecionador ou pessoa que se envolve com essas bonecas reborn fazer o que faz, é único.
No post de hoje vou trazer um pouco o que eu penso ao entrar em contato com esse universo sendo colecionadora de bonecas e também como uma pessoa que ama muito bonecas. E claro, mostrar um pouco minha "bebê Et".

Primeiro, o que acontece comigo é as bonecas reborn me dão uma má impressão, e chego a ter até um certo medo com a maioria delas.
É controverso essa sensação vindo de mim que confeccionei uma "adulta reborn", e um bebê ET.
Mas é que pra mim as bonecas bebês não passam fofura, nem doçura, nem meiguice, nem cuidado, nem nada que remeta a afeto.
Elas caem de cabeça no vale da estranheza entre ser bebê e ser boneca.
De fato não sei entender como minhas bonecas vintages, minha boneca manequim e as demais que tenho, não me causam isso, mas as reborn sim.
Eu sinto que com as bonecas da minha coleção, eu tenho afeição, acho elas bonitas beleza, eu gosto.

Pra muitas pessoas minhas bonecas não são bonitas. Pra muitas pessoas elas causam medo e entram no vale da estranheza também, então não sei.

Reborn me causa isso, é meio bizarro, meio estranho, e de alguma forma eu desprezo.
Talvez essa minha postura, possa estar atrelada ao fato de eu não ter nenhuma vontade em ser mãe e ter esse cuidado de entrega total, carinho e amor para com um bebêzinho que é filho meu.
Minha relação com a maternidade é nula, e me arrisco a dizer que até beira a repulsividade.

Eu adoro crianças, acho elas incríveis. O modo como elas veem o mundo, eu admiro.
Elas costumam ser espontâneas, verdadeiras, precisam de cuidado, afeto e proteção. E nós tanto adultos, precisamos ouvi-las, respeitá-las e orientá-las.
Mas a relação de eu ser mãe, esse laço, essa vontade, eu não tenho.

Lembro que quando criança, eu chorei para ter um bebê da Xuxa que vi na vitrine da loja e amei, ele era bem lindinho.
Mas quando eu o ganhei, eu desprezei o coitado como "filhinho". Eu lembro que gostava dele só porque o achava bonitinho, mas nunca cuidei dele, ele ficava jogado, coitadinho. Meu negócio era as Barbies.

Talvez esse sentimento de recusa a maternidade, esteja um pouco entrelaçado a minha objeção para com as bonecas bebês reborn, já que eu não costumo ter medo de bonecas.

Outra coisa que também acho estranho nesse universo é que a maioria das bonecas reborn que vejo são brancas. Entra na questão do racismo estrutural, infelizmente, nada de novo sob o sol.
E também pode até entrar nessa idealização da maternidade, e de sí mesmo na sua própria vida. Aí posso ter viajado.
Pensando bem, me parece ser mais um hobby de pessoa branca e não pobre né? Mas não vou afirmar isso pois foi uma percepção que tive por cima, não pesquisei muito sobre.

A arte Reborn

Isso, eu não tenho o que me opor. Eu deito para as artistas reborn. Acho elas incríveis e fodonas!
Os bonecos me dão medo? Dão! Mas uma pintura dessa numa bjd, numa escultura, teremos aí nossa Ron Mueck brasileira. 
Sem contar que vai além da pintura, tem a modelagem, a aplicação do cabelo fio a fio e o montar do corpinho. É sensacional!

Pelo o que eu entendi existe um rolê da boneca reborn ser original ou falsificada, e funciona mais ou menos como o processo das bonecas bjds.
Existe a artista que modela essa boneca, faz os moldes de vinil ou silicone com qualidade boa e vende os kits desses moldes para as artistas pintoras.
Essas artistas pintam com técnicas maravilhosas e produtos bons, colocam o cabelo, preenche o corpo com a técnica mais adequada para a arte reborn e pronto, temos a boneca original.
Onde a qualidade dos materiais é melhor na hora da sua produção e também principalmente porque ela "nasce" de uma artista que modelou aquilo.

Já as falsificados seriam a cópia "ilegal" desses bonecos vendidos sem sites chineses, por exemplo, com qualidade inferior ao oferecido pela artista que modela essas bonecas. 
Como comentei, é parecido com o que acontece com as bjd.

Eu entendo isso como artista, mas eu acho segregativo e elitista, como tudo que envolve consumo e status. Essa ideia de tornar (ou não) algo original geralmente "priva" quem gosta, mas não tem condições de ter.
Sim, capitalismo. Mas ao mesmo tempo a arte que se produz ao pintar e implantar o cabelinho, finalizar o boneco, eu não consigo classificar como uma falsificação, pois é uma arte genuína da pessoa que produz, então é meio controverso. 

Talvez, dentro desse universo, esse tipo de boneca, mais comercial, seja tratado como falsificada.


A relação das colecionadoras

Eu vejo que a maioria das colecionadoras são mulheres. E como mencionei no início, sinto que tem toda uma relação com algum tipo de afeto "maternal" que pra mim é distante.
Essa coisa do "ser mãe", que ao meu ver logo se entrelaça com papéis de genêro não é meu, então logo eu me afasto desse tipo de colecionismo e de brincar, porque eu não gosto, não me toca. 

Colecionar para ter as bonecas que se acha lindo, eu acho ok e perfeitamente de boa, é até fofo.
Colecionar para brincar de "mãezinha", eu também acho ok. Brincar, exercer o lúdico, isso deve gerar algum prazer e calmaria no cerébro de quem faz, assim como me acalma costurar as roupinhas fashions para minhas bonecas e depois trocá-las.

Agora polêmica. Observando tudo isso, pra mim entra numa questão de que talvez mulheres só estão brincando do que foram "postas" a serem na nossa sociedade: mães.
Exemplo, generalizando: Homens brincam de futebol, de vídeo game na infância, crescem e continuam "brincando disso", porque eles eram felizes enquanto faziam e continuam fazendo para serem felizes.
Mulheres brincam de boneca, crescem e continuam brincando disso.
Daí entra pra mim a construção do gênero que eu falei. Essas mulheres, já adultas, poderiam estar brincando de carrinho, mas estão brincando de "mãezinha".
Percebi que tem muito esse público: mulheres mais velhas que cresceram brincando de bonecas e de casinha, foram introduzidas e reproduziram esses valores, cresceram, tiveram seus filhos e por algum motivo o afeto e alegria delas estão em brincar de mãezinha.
Não sei...
Pra mim também entra um pouco numa vibe do, eu era feliz nesse momento de afeto com meu bebezinho e de certa forma quero isso de novo... mas repetindo eu não sei, não sou psicóloga, porque acho que deve ser mais íntimo de cada um  que coleciona.

"Ah mas as mulheres saem com as bonecas na rua" - Na real, quantas bonecas reborn você já viu na rua? Eu, até agora, nunca vi.
E outra. Isso te influência em que? Isso maltrata o mundo em quê?
"Ai me gera entranheza". Em mim também gera dependendo da situação, mas no fim, nesse caso, o que que tem?
Tudo que sai da minha normalidade é horrivel?

Vendo os vídeos do Chico Barney, eu percebi que a grande maioria das mulheres que aparecem ali, e acredito que a maioria das que colecionam e confeccionam as bonecas, sabem que aquilo é uma BONECA, elas são estão BRINCANDO.
Mas pra mulher que tem que ser adulta e madura desde sempre, brincar soa como uma ofensa para a sociedade, ai a gente entra em outro tópico:

O surto por viralização e a gente acreditando em fake news

Levar para o espaço de que são bebês de verdade, eu acredito que não seja uma coisa comum de se ver.
Pra mim, isso provém de um espaço mais psicológico o íntimo, onde uma pessoa em um momento específico de sua vida possa realmente acreditar e assim atrelar valor a objetos inanimados, numa situação que pode ter nascido de x questão, e daí só numa terapia mesmo.
São questões mais profundas que só psicológos ou terapeutas com seus pacientes entendem e nem eu, nem nenhum expert de porra nenhuma da internet vai saber dissertar com suas imensas prepotências o que leva um ser humano a acreditar que as bonecas são bebês.

Depois da grande viralização que isso teve, por todas as questões de estranheza, pelas bonecas darem "medo", por serem mulheres brincando, enfim, o assunto começou a borbulhar.
E nisso as pessoas que são espertas diga-se de passagem, viram que dá visualização fazer vídeo sobre o assuntto, e visualização gera: Dinheiro. 
Ai começaram a fazer vídeos estrambólicos como se as bonecas fossem reais, para dar visualização para elas, ou seja, dinheiro.
Começou a aparecer vídeo de boneca nascendo de bolsa de plástico para gerar visualização, ou seja...dinheiro.

E o pior, a gente acreditou, "nossa é o fim do mundo", "deus, manda o meteoro", "é o apocalipse", "as pessoas estão doidas". Oh gente, o nome disso é rage bait.

Não culpo muito, até eu acreditei no começo, depois eu fiquei "perai, será que eu sou tão burra assim?". Só um pouquinho vai haha
Tanto que comecei a pesquisar sobre o assunto.
Quem vende as bonecas também quer visualização, não essa pesada, mas é um modo de serem vistos.
 Meros mortais que tem suas bonecas também querem, a gente vive nesse mundo hoje. 

Mas no fim é isso, eu continuo meio sei lá com o assunto pois gerou muito burburinho, mas realmente é isso tudo ou a gente só está entediado?
Realmente é isso tudo, ou só são mulheres fazendo e daí, devido a sociedade misógina, gera-se uma comoção?

No fundo eu acho mesmo meio "doidinho", mas fielmente acredito que todo mundo é meio doidinho.
Cada um sabe a loucurinha ou loucurona que guarda em sí.

Quando a gente não entende por que as pessoas fazem o que fazem, (tirandos crimes) levamos na estranheza, mas não somos a reguá do mundo.
Deixa as pessoas serem felizes.

Eu até me senti confortada vendo algumas colecionadoras meio "doidinhas" como eu hahaha no dia a dia a gente se sente solitária viu?

Bom em "protesto" e influenciada por Lorelay Fox, fiz meu bebe et. Ele não é reborn. Ele é boneca bebe et, inspirada no universo reborn.

Meu "bebê" não tem gênero, então é elu, delu.
Vou chamar de ele mas pode ser ela.

Como o post está muito grande, na primeira parte eu vou postar somente o resultado final do bebê ET e logo mais posto o processo de criação.

Minha bonecona e meu bebê et.

Eles tem os mesmos olhos haha comprei na mesma loja.

Eu doidinha e minhas doidices.

E é isso por hoje.
Ruka (1965) Director:Jiří Trnka

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