Circuito Sesc de Artes

 A Cia Koi da qual fui cofundadora e fiz presença em alguns projetos foi convidada pelo Sesc de São José do Rio Preto a participar do Circuito Sesc de Artes de 2024.
Nisso minha irmã (que hoje é a linha de frente da cia) me convidou para fazer parte desse trabalho árduo que teve duração de 6 finais de semana contando o sábado e o domingo.
A príncipio pensei bastante e depois aceitei, uma graninha é sempre bom para quitar as contas.

O Circuito Sesc funciona mais ou menos assim, a ideia é juntar artistas de várias áreas e linguagens diferentes, colocar todo mundo em um ônibus e leva-los para se apresentar em cidades onde não possuem unidade do sesc.

Geralmente essas cidades pequenas acabam tendo pouco contato com movimentos de arte, então é um modo de levar para a população.
A ideia é realmente incrível, se assemelha aquele sentimento de circo que chega nas cidades, e em muitas cidades foi possível ver o gosto em receber a gente no olhar do público.

A cia Koi foi convidada para fazer a mediação de leitura.
Nossa ideia foi montar um cenário na tenda (que foi pensado pelo Dera e e pela De), essa tenda teria livros das quais leríamos junto as crianças. E como uma das abordagens da cia koi é o Kamishibai (que é um modo de contar história que teve início lá no Japão que mistura contação + ilustração), depois de lido alguns livros nós entregariamos as crianças folhas para elas desenharem e contar suas histórias para gente. De mimo e agradecimento a presença do público na tenda entregaríamos sementes de girassol. 

Deu certinho, nossa tenda ficou linda e a proposta funcionou!
Era um perrengue estressante para montar e desmontar? Era.
Tinha vários detalhes como origami pendurados, cenário com fundo de tecido, estandartes, lona e taboas, e claro o Kamishibai. 
Tudo foi pensando na intenção de trazer as crianças para perto desse espaço e assim incentivar a leitura e o desenho, sem esquecer os brilhinhos que o estético quanto bonito nos trás.
Isso sem contar que tínhamos até figurino pensado com cores vivas para ajudar na irnensão.

O trabalho era árduo pois era muita viajem!
Eu viajava de casa para minha cidade natal, de lá viajava o grupo da koi para a cidade sede, e de lá viajava todos os artistas para as cidades da apresentação.
Era uma cidade no sábado e outra no domingo, muito hotel, muita comida boa e suspeita também, e muito café da manhã topzera, que era melhor parte haha quero ser sommelier de café da manha de hotel.

Os bonitos nos hoteis.

O artista pode pensar "é meu sonho ir para rua e pro povo", já dizia Sandy e Junior "o artista vai onde o povo está" haha, mas eu sou a artista do desenho, ou seja minha vida foi exclusão na adolescência o que me levou a desenhar mais e mais no meu cantinho e ficar sozinha, e nisso observava o mundo pela minha perspectiva sempre na reclusa, enfim, o habital de uma artista plástica talvez.

Então pra mim era super cansativo me deslocar de casa, da minha vidinha, mas  principalmente de mim, pois não somente viajávamos mas chegando no local do circuito a maioria do nosso público era infanto/juvenil e a mediação funcionava como uma orientação para eles. Quase como uma professora.
E agora imagina eu, que fugi da faculdade de licenciatura, nessa situação ???

A príncipio eu travei. Terminei o primeiro final de semana com a sensação de sou uma fralde, pois não li para as crianças, eu os acompanhava e orientava, mas ler para eles (que era o objetivo né) ser solicita estava sendo difícil demais e simplesmente não consegui.

Depois da minha crise em casa, tentei ser compreensiva comigo e com quem fui até esse novo trabalho e quem poderia ser para estar um pouco melhor.
Nisso coloquei na cabeça que no segundo final de semana ia dar bom, íamos viajar para minha cidade Natal e eu fui com a fé e a coragem. 

Essa foi a frase que abri em um biscoito da sorte na semana da crise.

A primeira criança que li era um menino fofo e tímido, ele estava no cantinho com vergonha e curiosidade. Eu também estava com vergonha e pensei "vai ser nesse que eu vou" pois senti ele solícito. 
Esse primeiro livro que li, eu lia com a voz trêmula, mas foi bom terminar de ler o livro, pois depois que passou eu levemente comecei a me sentir capaz. 

Eu sou tímida, eu não posso esquecer quem sou para tentar superar expectativas do que eu penso que os outros pensam de mim (deu pra entender?).

Conhecendo minhas limitações o serviço de mediação fluiu.
Li para várias crianças, mas do meu jeitinho, trazendo para perto as que sentia uma abertura de afeto, e assim conheci amizades e crianças lindas e sensíveis.
Meu medo delas e de mim se transpôs a afeto. E achei isso muito bom pra mim.
E acredito que para elas também.

Desenho que ganhei de crianças fofas que me desenharam.

Bom questão eu, "superada".

Agora vamos para questão seres adultos com a leitura. Como menosprezam né?  E eu nem estou aqui para falar que a leitura é tudo e a única forma de conhecimento não, mas é importante demais, e uma questão que senti bem forte é a irrelevância que adultos (mais simples, alguns pais) davam as questões de leitura, não incentivavam o ato de ler e nem o de desenhar. 
Tudo isso era ultrapassado demais, ver outras coisas do circuito era mais interessante.
????? O gente, eu aviso ou você avisa?

O lindo (e o lado bom) dessa situação foi ver que as crianças ficavam na tenda, não importava a ansiedade dos adultos para fazer algo mais "importante"do que ler e desenhar, as crianças queriam ficar ali, uma menina até chorou pra sair, ficavam tristes em ir embora.
As crianças enxergam o mundo de modo muito lindo, elas estão abertas a receber, e sem forçar nada reconhecem o legal da arte, do desenho e da leitura.

Teve algumas crianças das quais chamei para ler que a princípio não queriam, por pouco incentivo ou X questão, mas depois se entregavam e adoravam. Bonitinhos demais.
Eu descobri as crianças muito lindinhas.

A questão do adulto que não vê valor no que estávamos propondo para mim partiu até do ambiente artístico, enquanto erámos "só" mediadores de leitura erámos "menos" artistas que os demais (só que todos os participantes da mediação da cia são artistas do teatro e plástico). Isso não foi dito em momento algum, mas eu sentia num certo ar de soberba de alguns, mas o ego do artista (e eu me incluo nessa) é muito delicado e frágil então isso é assunto pra outro post (ou não né, que tema chato, somos inseguros é isso 😭).

Bom a conclusão que tirei disso tudo foi: que foi tudo.
Tudo no sentido de completude, integridade.

Foi cansativo, foi estressante, conviver com o outro quanto adulto é super difícil, cada um com seu universo particulpar, suas visões e inseguranças. Quanto criança precisa de energia, atenção total, voz firme e um certo carisma e felicidade.
É sair de casa, dormir em cama diferente, banhar em chuveiro louco a gás de agua muito fria ou muito quente.

Mas ao mesmo tempo foi lindo e foi ótimo.
Conhecer pessoas novas com suas cargas, histórias de vida tão incríveis e intrigantes que dá vontade de ficar mais tempo com elas, conhecer mais.
Ver o contato das crianças com a arte, elas ficavam em sua maioria felizes com aquela tarde diferente, descobrindo que a leitura é para além de tudo, legal e boa. Que seu desenho importa, é bonito e se pode criar com ele.

Isso sem contar dos rangos tops que comi, por que para a Magali aqui isso conta!! Sesc entregou nos lanchinhos, mas não só, a produção deles enquanto responsáveis é fina.

Isso tudo foi muito da hora!
Fiquei pensando em como escrever sobre essa experiência significativa, mas não encontrava palavras pois ainda estava absorvendo.

Eu quis escrever esse post pois uma foto nas redes talvez não iria traduzir pra mim os meus sentimentos.
Foi muito bom, me descobri. Sim, mas só isso?

Foi tudo isso e isso tudo!

Acredito que depois de descansada irei talvez querer viver isso de novo se tiver a oportunidade.
E talvez em um futuro a noção da percepção que tenho agora se transforme também, mas escrevo para não esquecer
Foi muito bom...

Bolo de rolo banda baribó

Eu só queria ter me despedido mais de alguns amigos que fiz, mas quem sabe nos encontremos de novo.
(ah o cantor falava: "Bolo de rolo banda baile bloco", o nome da dança do grupo dele, mas por muitos circuitos eu ouvia isso banda baribó haha)

E assim a Nika formiga terminou o circuito, é isso por hoje, segue as fotos dos momentos:

Mediação de Leitura
Entre folhas, ramos e histórias com Andressa (De), Sara, Paulo e eu (nika formiga apelido que o Paulo me deu e eu amei).

Com a particiação do nosso amigo Vktor.

Eu e minha mamain.

Algumas presenças ilustres.

Detalhes das cidades e hoteis.

Os bonitos.

O espelho bugado.

Algumas obras das crianças.

Minha amiga sobrevivente de sol, chuva e vento, a cobra Braian.

Agora é fim, fui.

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