Brechó não é mais como antes e o descarte das roupas antigas.

Começou com "Não é mais como antes...", é vem saudosismo?

Não sei, mas esses dias fui num brechó aqui da minha cidade e não encontrei quase nada antigo nas araras. Esse é um desses brechós que tem cara de loja, ou seja, as roupas todas separadas nas araras por cor e a vezes tamanho.
Eu sei que isso falicita muito a vida de quem não gosta, não sabe ou não tem tempo de garimpar. 
Mas esse formato tem um grande problema pra mim pois antes das peças irem para venda elas passam por uma curadoria, e pautada nas minhas experiências vejo que quem geralmente faz essa curadoria são pessoas que não gostam do vintage pois acham ele obsoleto, acham que já está fora de moda e que tudo isso já passou. 
Eu entendo a ideia, essas pessoas procuram agradar seu maior público, mas isso se resulta no fato de eu encontrar cada vez menos peças vintages nos brechós e bazares que vou.

Pode ser que em cidades maiores e em outros espaços ainda se venda, pois a pessoa que faz a curadoria vê valor nessas peças mais antigas, mas hoje em dia tenho sentido uma dificuldade em encontrá-las justamente por isso.

Andei por vários dias na minha cidade natal e encontrei pouquíssima coisa,e não quis ser extrema por ter tido essa experiência ao pensar que as peças vintages realmente estavam mais escasas, (mesmo que a cidade em questão entregava muito no comércio de segunda mão), mas a minha ida mais recente nesse brechó da cidade em que moro me desanimou e sem querer firmou esse sentimento.

Uma situação que vivi e me deixa muito triste é o fato do descarte.
Por um longo tempo fui voluntária em um bazar que era muito querido pra mim. As pessoas doavam suas peças lá pois sabiam que iam para alguém.
Esse foi um dos bazares que alimentou o 3 Marias por anos, lá encontrei peças f0d4s, raras e vintages.

Depois ele foi mudando o formato, as pessoas que comandavam foram mudando também, e quando as peças antigas chegavam justamente por serem antigas e o antigo se transpor do atual, tanto em recorte, em tecido, e muitas vezes por estarem sujas por terem ficado guardadas e assim ficarem fedidas, essas peças eram descartadas no lixo.
Me soava muito assim a postura dessas pessoas que recebiam essas peças e fazia a curadoria: É antigo? Então é lixo.

Eu via isso toda vez que ia lá, era muito saco preto de roupas (que muitas vezes não tinham nem sujeira e nem rasgos) para serem descartados no lixo (ou seja que supostamente e provavelmente seria jogado em algum aterro por aí).
Como sempre gostei de moda eu saia resgatando essas roupas do descarte, eles vendiam para mim por um valor acessível, mas ainda me zoavam (e zoavam muito) por gostar dessas peças, com frases como "só você quer esses trapos kekeke".

Muita coisa aconteceu nesse local e eu me afastei e nunca mais fui lá.
Fico pensando nas peças que foram descartadas...

Elas realmente poderiam ter tido um outro final.
Aqui vai alguns exemplos das que resgatei do "lixo" de lá:

Motivo: Tecidos antigos demais.

Motivo: Manchas.
(que saiu na lavagem, e a roupa azul eu tingi e hoje é um conjunto belíssimo!)

Motivo: Rasgos (que costurei).
Sujas e fedidas (que lavei).

Elas são descartadas por serem antigas, por estarem sujas e esse estilo não servir mais. Mas nesse caso também rola uma questão de mediocridade das pessoas né, isso que me dá raiva. Por que não sou só eu que curte peça vintage no mundo, então teria público.

Sem contar que acho que uma questão que pode pesar é o fato de que agora tudo dá pra vender. Entendo que as pessoas precisam de din e viram um modo de o ter, mas daí as doações também ficam mais escassas e a coisa parece que não rende.

Eu fico triste pois amava brechó, a sensação de encontrar algo que não se espera é mágica. 
E também por que amo o vintage e sei de sua preciosidade. Os tecidos são incríveis, os recortes são únicos, muita coisa costurado a mão por costureiras alfaiates, coisa fina que não se encontra mais.

E pelo andar da carruagem vai se encontrar cada vez menos...
Sei que comparado a todas as questões do planeta isso pode soar menos, mas eu fico realmente triste por que brechó era uma opção alternativa e acessível pra mim que não uso a moda atual por não me identificar e por ser pobre, agora será que vai seguir assim? 

Vou ter que gastar o rim em peças atuais mas mais meu estilo, que na primeira lavada na máquina já rasga? (igual aconteceu comigo esses dias)

Fica ai o questionamento.
E a tristeza...

E outra coisa, eu doei várias peças minhas pro pessoal que curtia e fiquei feliz.
Mas o vintage não sai de mim, e minha arara já está com algumas peças vintages de novo haha é sobre.
E tem peças que também não consegui doar, que amo muito. Talvez um dia eu faça um post sobre elas.

E é isso por hoje.

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